Casinha, 2017

O tempo molda as paisagens, mas algumas memórias resistem, impregnadas na madeira antiga, no toque áspero da pedra, na sombra suave dos beirais. Nesta casa de colônia, cada tábua, cada mata junta carrega histórias de outros tempos, de mãos que ergueram, habitaram, e que se tornam parte da continuidade do lugar. A casa permanece fiel à sua essência, voltada à estrada que sempre a viu passar pelas estações. As paredes de madeira permanecem inalteradas, o piso conhece o peso dos mesmos passos, as esquadrias, tonalizadas com Pó Xadrez, respiram sob os mesmos telhados de duas águas. Apenas um gesto de transformação se permite: aquele que não se impõe à paisagem, mas a amplia.

A parede que outrora delimitava o fundo da casa agora se dissolve em transparência. O vidro assume o lugar da empena, sustentado por estrutura metálica que respeita a geometria original da casa. O que antes era limite se torna passagem, e a casa contida, agora se abre para o vale, para as montanhas que estavam ali, mas que agora fazem parte do interior. O espaço interno, antes fragmentado, se liberta das antigas compartimentações. Apenas um discreto volume de tábuas guarda o banheiro, enquanto o restante da casa se estende livre, permitindo que a cozinha, o estar e o olhar fluam sem interrupções. Um mezanino discreto permite sentir mais de perto o teto que protegeu tantas vidas.

Diante da grande fachada de vidro, um deck avança em direção ao mato, à imensidão do vale. Sustentado de forma sutil, flutua no espaço como uma extensão natural. Os guarda corpos, quase invisíveis, reforçam a sensação de leveza – ali, a fronteira entre a casa e o mundo já não existe. A casa renasce sem deixar de ser o que sempre foi. Ela afirma sua origem, não apaga sua história, mas acolhe o presente e se abre para o infinito. Agora, a brisa, a luz e as montanhas entram sem pedir permissão.

Endereço: Santa Rita de Cássia. Veranópolis, RS

Ano: 2017

Área: 55